Entre os dias 25 e 29 de junho acontece de forma on-line o congresso da American Diabetes Association (ADA 2021). O tema Covid-19 e diabetes recebeu atenção logo no início do congresso. Nesse artigo, traremos um resumo dos dados apresentados por Alberto Coppelli, da Universidade de Pisa, sobre o papel da hiperglicemia na evolução da Covid-19.

Hiperglicemia e Covid-19

A prevalência do diabetes entre os pacientes com Covid-19 admitidos no ambiente hospitalar foi estimada em 7,1% (5 a 11%), o que é semelhante ao encontrado na população geral. Entretanto, a prevalência de diabetes foi pelo menos três vezes maior (20,5% em média) entre os indivíduos com quadro mais grave de Covid-19, como aqueles requerendo admissão em unidade de terapia intensiva, ventilação mecânica, ou que evoluíram a óbito.

A razão para o pior prognóstico reflete a natureza sindrômica da doença que afeta frequentemente indivíduos idosos, que apresentam mais comumente comorbidades como hipertensão e doenças cardiovasculares, obesidade, insuficiência renal, condições pró inflamatórias e pró coagulantes.

Pesquisa baseada nos dados eletrônicos de saúde de 17 milhões de pacientes do National Health Service (NHS) identificou cerca de 6.000 pacientes admitidos no hospital por Covid-19 e analisou múltiplos fatores associados com morte hospitalar. O diabetes foi associado ao dobro do risco de mortalidade quando comparado a indivíduos sem diabetes, especialmente entre os pacientes mal controlados (glicemia e hemoglobina glicada à admissão).

Novo estudo

O Pisa Covid Study avaliou uma série de parâmetros cardiometabólicos e encontrou que pacientes com diabetes usavam mais estatinas e anti-hipertensivos, sugerindo um pior perfil de risco cardiovascular entre esses pacientes, que também apresentarem níveis mais altos de creatinina.

Dados ainda não publicados de Coppelli et al (CALIPER Lung CT Computer-Aided Analysis) revelaram que pacientes com hipoglicemia no momento da admissão (com ou sem diagnóstico prévio de diabetes) tinham maior envolvimento pulmonar quando comparados a indivíduos normoglicêmicos.

O autor finalizou sua apresentação comentando que os efeitos da hiperglicemia na admissão hospitalar em pessoas sem diagnóstico conhecido de diabetes está associada a:

Maior resposta inflamatória;
Doença pulmonar mais grave;
Aumento do risco de mortalidade numa extensão que pode ser maior do que aquela vista em indivíduos com diagnóstico conhecido de diabetes.
Controle glicêmico ruim durante a internação e maior variabilidade glicêmica também estão associadas a pior prognóstico.

Em que extensão a hiperglicemia na admissão hospitalar se deve à condição de estresse, dano à célula beta pelo Sars-Cov2 ou ambos ainda precisa ser esclarecido.

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Artigo publicado no Portal PEBMED em 27 Junho de 2021.

 

Autora: Daniele C. Tokars Zaninelli, endocrinologista em Curitiba.