Os problemas da tireoide, incluindo disfunções hormonais, nódulos e câncer, atingem uma parcela cada vez maior da população. É importante conhecer suas principais manifestações, pois seus portadores costumam passar longos períodos até que o diagnóstico seja feito. Enquanto o tratamento não é realizado de forma apropriada, pode ocorrer prejuízo da qualidade vida, da capacidade para o trabalho e até das relações sociais. Além disso, existe um aumento no risco de complicações de saúde a longo prazo.
A tireoide está localizada na região anterior do pescoço, logo abaixo do “Pomo de Adão”. É a glândula responsável pela produção dos hormônios tireoideanos, T3 e T4, e está sob o comando do TSH (hormônio estimulante da tireóide). Os hormônios tireoidianos atuam em todo o organismo, controlando, de forma geral, seu ritmo de funcionamento.
Apesar de mais comuns em mulheres, os problemas da glândula também podem se manifestar em homens. O hipotireoidismo é, sem dúvida, o mais comum entre eles. Atinge cerca de 10% da população, e sua frequência aumenta com a idade. A principal causa é a autoimune, ou seja, o sistema imunológico passa a tratar a tireóide como se ela fosse um invasor, produzindo anticorpos contra estruturas da glândula, o que leva à redução da produção hormonal.
Os principais sintomas são: cansaço, queda de cabelos, pele seca, obstipação intestinal, alterações do humor e do sono, dificuldade de emagrecer, e redução da capacidade de concentração e memória. Também pode interferir no ciclo menstrual e na fertilidade.
Os sintomas costumam aparecer de forma lenta e progressiva. Pequenas mudanças se instalam gradativamente no organismo e muitas vezes passam desapercebidas. Além disso, os sintomas podem ser erroneamente atribuídos ao estresse, à menopausa e à gestação, por exemplo, atrasando o diagnóstico e o tratamento adequados.
A confirmação do diagnóstico pode ser feita através da dosagem sanguínea do TSH. O endocrinologista irá indicar o tratamento com a levotiroxina (hormônio tireoideano sintético) em doses variáveis de acordo com as condições clínicas de cada paciente. Os exames de controle costumam ser realizados após pelo menos 4 semanas do início do tratamento, pois esse é o tempo que o sistema de controle hormonal da tireóide leva para se adaptar à nova condição. A partir disso o ajuste da dose é feito periodicamente, de forma individualizada. Os sintomas costumam melhorar de forma gradativa, nos primeiros meses de tratamento. Com o acompanhamento adequado e o uso regular da medicação o paciente pode levar uma vida normal.
– Hipotireoidismo subclínico
Pode ser descrito como uma fase inicial no desenvolvimento da doença. Costuma ser revelado em exames de check-up, pois em geral não causa sintomas. Acomete cerca de 9% da população brasileira. Apesar de ser uma forma leve do hipotireoidismo, pode ter sérias implicações na saúde. Um estudo recente mostrou um aumento de 3 vezes no risco de derrame cerebral em seus portadores. O endocrinologista usa critérios clínicos para indicar a necessidade de tratamento em cada caso.
– Hipotireoidismo e gestação
Pacientes que já estão em tratamento por hipotireoidismo e desejam engravidar devem avisar seus médicos, pois nessa fase o alvo do tratamento é diferente, e deve ser atingido antes mesmo da concepção. Após confirmação da gravidez costuma ser necessário o aumento da dose da medicação, que deve ser feito precocemente para evitar complicações obstétricas e fetais. Pacientes que recebem o diagnóstico de hipotireoidismo durante a gestação devem iniciar o tratamento o mais rápido possível, pelas mesmas razões.
Acima falamos sobre as situações em que a produção hormonal da tireoide está diminuída. Já no hipertireoidismo ocorre exatamente o oposto. Em geral, a causa também é autoimune, porém os anticorpos estimulam a produção hormonal, que se torna excessiva. O quadro costuma se desenvolver de forma mais rápida, e muitos pacientes procuram primeiro o cardiologista devido às palpitações que provoca. Outros sintomas são: tremores, pele quente, sudorese, queda de cabelos, insônia, alterações menstruais, agitação e irritabilidade. O organismo fica acelerado, dando sensação de energia de sobra, porém com cansaço excessivo. Costuma ocorrer emagrecimento apesar de um apetite aumentado. O tratamento pode ser feito com medicamentos que bloqueiam a produção hormonal, iodo radiativo ou cirurgia, dependendo de cada caso.
Os nódulos da tireoide são alterações estruturais que podem ou não se associar a disfunções hormonais, e estão se tornando cada vez mais frequentes. Podem ser detectados durante a palpação da glândula em cerca de 7% das mulheres e 1% dos homens, e quando se utiliza a ecografia na investigação, passam a ser diagnosticados em maior proporção. A incidência dos nódulos aumenta com a idade, podendo ser encontrados em até 90% das mulheres acima de 70 anos. Além da melhora da qualidade e da disponibilidade dos métodos diagnósticos, o aumento na incidência tem sido atribuído a fatores ambientais e até mesmo à obesidade. Cerca de 5 a 10% dos nódulos podem abrigar um câncer, e as características ecográficas podem dar pistas sobre a sua natureza. Quando indicada, uma punção do nódulo permite a confirmação do diagnóstico na maior parte dos casos. O risco de malignidade é maior quando existem familiares com câncer de tireoide, ou em pessoas que foram expostas à radiação externa ionizante. O que preocupa é que a exposição repetida a agentes ambientais agressores, mesmo que em doses baixas, e principalmente quando ocorre na infância, pode aumentar o risco tanto de alterações funcionais como de tumores da tireoide a longo prazo. E isso não está tão longe quanto parece, já que estamos constantemente expostos à radiação em diversas situações, desde aquela ambiental natural, ou num vôo de avião, ou ainda durante a realização de um raio X dentário, onde a dose é baixa, até uma tomografia computadorizada ou um cateterismo cardíaco, onde as doses são consideráveis.
Apesar do aumento do número de casos de câncer de tireoide, houve uma queda na mortalidade relacionada à doença. Então, fica a mensagem: procure entender os sinais que seu organismo pode dar quando a tireoide não está funcionando de forma equilibrada. Com isso é possível buscar um diagnóstico preciso, possibilitando um tratamento capaz de devolver o ritmo normal à sua vida.
*Dra. Daniele Zaninelli, endocrinologista do Hospital VITA Curitiba
Fonte: Blog Vita
POSTADO POR HOSPITAL VITA – 25 DE MAIO DE 2015