A médica endocrinologista Daniele Zaninelli, em entrevista para o jornal Gazeta do Povo, fala sobre os cuidados e condições do uso de polivitamínicos.
Disposição, proteção contra doenças e juventude: tudo em uma cápsula diária. Essa é a promessa de diversos suplementos vitamínicos à disposição hoje no mercado e que parece estar convencendo muita gente. No ano passado, a venda desses suplementos no Brasil faturou R$ 148,6 milhões e até julho deste ano já alcançou a marca de R$ 116,4 milhões, segundo dados da IMS Health, que acompanha o mercado farmacêutico. No ano passado, o faturamento mundial do mercado de vitaminas foi de US$ 13,9 bilhões.
Mas médicos e estudos indicam que uma alimentação equilibrada, na maioria dos casos, já consegue suprir as necessidades diárias das pessoas. “Ouvi uma vez em uma palestra a seguinte frase, com a qual concordo: a vitamina foi uma invenção da indústria inventou para vender remédio para quem está saudável”, comenta o professor de endocrinologia da UFPR Henrique Suplicy, que também é membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.
A ideia de que complementos vitamínicos e saúde andam juntos ganhou bastante força graças a um químico genial: Linus Pauling. Ganhador de dois prêmios Nobel, Pauling morreu em 1994 convencido dos benefícios da vitamina C para a saúde. Na década de 1970, publicou o livro “A vitamina C e o resfriado comum”, em que defendia o consumo diário de 3 gramas da vitamina para evitar resfriados. Anos mais tarde, o cientista passou a defender o uso dela também para o tratamento do câncer. Até hoje, porém, não existe qualquer evidencia médica que tenha conseguido comprovar essas teorias de Pauling.
Com um cientista ganhador de dois prêmios Nobel defendendo de forma tão veemente as vitaminas, não é de se admirar que a fama dos suplementos e a ideia de que eles são sinônimos de saúde ainda persista. No entanto, o consumo desses suplementos sem a orientação necessária pode acabar em prejuízo, no mínimo, para o bolso. “Quando se consome mais vitaminas que o necessário, elas são eliminadas. No fim, fica a falsa sensação de saúde”, diz Suplicy.
Conseguimos obter a quantidade diária de vitaminas que uma pessoa adulta normal precisa ingerir mantendo uma alimentação saudável – com a velha e conhecida composição de vegetais, ovos, frutas, carne, cereais leite e derivados. No caso das vitaminas hidrossolúveis, o que é consumido a mais é excretado pela urina. O excesso de vitaminas lipossolúveis, por sua vez, é armazenado em parte no organismo e usado no momento em que há carência.
O uso indiscriminado de polivitamínicos também pode trazer problemas para a saúde. “O uso das pílulas pode acarretar outros problemas que, embora raros, podem acontecer”, comenta a endocrinologista Daniele Tokars Zaninelli, do Hospital Vita. Uma dessas consequências é a hipervitaminose, ou envenenamento por vitamina. Estudos recentes também indicam que a suplementação excessiva pode ter relação com a ampliação do risco de se desenvolver alguns tipos de câncer ou doenças cardíacas.
Vitamina do Sol
Uma recente pesquisa feita pela UFPR em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) com estudantes em Curitiba mostrou que quatro em cada cinco meninas têm falta de vitamina D. A pesquisa só confirmou o que outros estudos vêm demonstrando: há uma epidemia de carência dessa vitamina, que é a única que não se consegue de forma satisfatória pelos alimentos. “Ela tem como fonte o sol”, explica o endocrinologista Cesar Boguszewski, professor da UFPR. Para obter a vitamina D, a recomendação é que as pessoas se exponham ao sol por pelo menos 10 minutos com protetor solar apenas no rosto. A suplementação não deve ser feita sem orientação médica.
Recomendação
Suplementação só é necessária em casos específicos
O uso de suplementos vitamínicos só deve ser feito sob orientação médica e por um tempo determinado. Normalmente, antes de prescrevê-los, o profissional pede um exame para saber quais são as deficiências do paciente. “Não existe uma rotina de pedir uma verificação de vitaminas em um checape. Mas alguns sintomas, como queda de cabelo, dores no corpo e fraqueza podem indicar alguma deficiência que deve ser investigada e depois tratada”, comenta a endocrinologista Daniele Zaninelli, do Hospital Vita. A médica trabalha com pacientes que passaram por cirurgia bariátrica. Como há uma grande mudança no sistema digestório dessas pessoas e limitação no consumo de alguns alimentos, elas acabam tendo carências de diversos nutrientes e vitaminas. “Esse é um acompanhamento para a vida toda”, diz.
Pessoas que estão se recuperando de doenças graves, com dificuldades de alimentação ou obesas também tendem a precisar de suplementação. Todos os casos, porém, devem ser investigados e orientados pelo médico.
Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/saude/conteudo.phtml?tl=1&id=1406769&tit=Remedio-para-gente-saudavel