Revista Galanti – Março/Abril de 2017
A Páscoa está chegando e com ela a doçura do chocolate. Mas o alimento que faz a alegria de muita gente, pode também trazer resultados amargos, principalmente quando se fala em obesidade infantil. Segundo a Dra. Daniele Tokars Zaninelli, no Brasil, mais de um terço das crianças está acima do peso. Então, o que fazer?
O açúcar é o maior vilão? Como entra o chocolate nessa história?
Não há dados de literatura que permitam responsabilizar um nutriente específico pela epidemia mundial de sobrepeso e obesidade. O grande problema é a quantidade que se consome. Alimentos contendo grandes quantidades de açúcar e gordura estão cada vez mais acessíveis, sendo ofertados em porções cada vez maiores. O chocolate é um alimento rico em calorias, porém o consumo moderado, especialmente do amargo ou meio amargo (que possuem maior teor de sementes de cacau) pode ser até benéfico para a saúde. O problema é a mudança no padrão de consumo que ocorreu nas últimas décadas. Antes as crianças aguardavam ansiosas pela Páscoa para se deliciar com as guloseimas que ganhariam nessa época. Hoje em dia a situação é bem diferente, e chega ao ponto de ficar difícil limitar seu consumo (muitas vezes diário), diante da tamanha oferta de chocolates e doces em geral.
Qual a orientação para lidar com as crianças, em dieta ou não, durante o período?
Não costumamos falar em dieta quando se trata de crianças que precisam perder peso. O foco deve ser a melhora na qualidade dos alimentos, mais do que a restrição calórica. Isso previne, inclusive, o desenvolvimento de distúrbios alimentares na adolescência. A perda de peso acaba sendo uma consequência natural dessa mudança de hábitos, que leva à redução do consumo de alimentos industrializados (ricos em açúcar, gorduras e sódio, e pobres em nutrientes). Portanto, pessoalmente, acho que a restrição excessiva do consumo de chocolates na Páscoa seria um castigo muito grande para qualquer criança, e não seria a solução para o problema. A orientação geral seria para evitar os exageros na hora de presentear, já que as crianças não têm maturidade suficiente para controlar o consumo de alimentos tão tentadores.
As substituições por chocolates diet são viáveis?
O chocolate diet costuma ser indicado para os portadores de diabetes, já que não contém açúcar, porém é rico em gorduras, o que pode torná-lo até mais calórico do que a versão tradicional. Seu uso não deve ser indicado para a perda de peso.
Que tipo de comorbidades a obesidade infantil pode trazer?
A obesidade é um fator de risco importante para o desenvolvimento de distúrbios metabólicos em qualquer idade. Crianças obesas podem apresentar aumento dos níveis de colesterol, resistência à insulina, diabetes, gordura no fígado e aumento da pressão arterial, problemas crônicos que aumentam o risco de doenças cardiovasculares, como infarto e derrame, e até de câncer em idade precoce. Além do maior risco de doenças na vida adulta, as crianças obesas estão mais propensas a apresentar apneia do sono, asma, puberdade precoce e depressão, além de problemas ortopédicos. O convívio social, tanto pelas limitações impostas pela doença, como pelo estigma que carregam, costuma ficar bastante prejudicado.
Ela traz risco de morte?
Sim. Devemos lembrar que as doenças crônicas não transmissíveis são responsáveis por mais de 70% das mortes no Brasil. Entre elas estão o diabetes, o câncer e as doenças cardiovasculares, que, em grande parte dos casos, resultam da obesidade. Quanto mais precoce a instalação do excesso de peso, mais cedo essas doenças aparecem.
Quais são os sinais aos quais os pais devem ficar atentos para identificar a propensão a engordar? Quando é hora de buscar ajuda profissional?
A melhor forma de identificar o problema precocemente é através das consultas de rotina com o pediatra. Antes dos 5 anos de idade os gráficos (curvas) de peso e altura são nossos maiores aliados. Após os 5 anos, podemos fazer uso de uma calculadora planejada para diagnosticar como está o peso da criança com relação a sua estatura e idade. O link para acesso a essa ferramenta é: http://www.abeso.org.br/atitude -saudavel/curva-obesidade A obesidade é uma doença crônica, progressiva e de difícil tratamento, portanto a prevenção é a melhor estratégia para combatê-la. A verdadeira prevenção começa com o planejamento familiar e mudança de hábitos antes mesmo da gestação. A obesidade materna ou mesmo o ganho excessivo de peso durante a gestação já colocam a criança em maior risco de se tornar obesa.
Publicado em Revista Galanti Março/Abril de 2017