Estamos vivendo uma epidemia crescente de obesidade. No Brasil, metade da população adulta está com excesso de peso e ainda mais alarmante é o aumento dos índices de sobrepeso e obesidade observado entre as crianças, mais de 300% entre os meninos e de 400% entre as meninas, nas últimas duas décadas.
Atualmente, uma em cada duas crianças com idade entre cinco e nove anos está acima do peso. Doenças antes observadas quase que exclusivamente em adultos, como hipertensão arterial, diabetes e colesterol alto, passam a atingir crianças, que também podem sofrer com problemas ortopédicos, apneia do sono, disfunções sociais e problemas de autoestima.
Crianças que chegam obesas à adolescência têm 70% de chance de permanecerem obesas na vida adulta, já entre as crianças com peso adequado, o risco é de cerca de 10%. A cada 10 mortes, 8 estão associadas às doenças crônicas, como as doenças cardiovasculares (infarto, derrame), diabetes e vários tipos de câncer, sendo que a obesidade aumenta o risco de todas elas. O tratamento da obesidade diminui o risco dessas complicações, mas a prevenção é o melhor caminho não só para se conseguir mais anos de vida, como também para vivê-los com mais qualidade.
E quando deve começar a prevenção? Na infância? Talvez deva começar ainda antes. Sabe-se que ainda durante a gestação existem fatores que atuam determinando como será o padrão de consumo e de gasto energético do indivíduo que está se formando, e isso vai muito além da tendência genética herdada dos pais. Qualquer problema que aconteça no início da gravidez, a obesidade materna, e tanto o baixo como o excessivo ganho de peso na gestação podem levar à maior tendência da criança apresentar excesso de peso. Isso mostra a importância de que a família adquira hábitos saudáveis antes mesmo da concepção.
A participação da família nesse processo é de fundamental importância. É possível proteger as crianças do ganho de peso através de atitudes relativamente simples, que devem ser iniciadas o mais cedo possível. Aqui ficam algumas dicas:
– Amamentar exclusivamente por pelo menos seis meses;
– Reduzir o número de horas que as crianças passam em frente ao computador, televisão e jogos eletrônicos, estimulando a movimentação em atividades como passeios ao ar livre e atividades de recreação;
– Oferecer uma alimentação saudável, evitando fast foods, alimentos industrializados e bebidas artificiais açucaradas (refrigerantes, sucos de caixinha).
Nem todo mundo sabe que somos dotados de um complexo sistema de controle da fome e da saciedade, responsável por nos “avisar” quando devemos comer, e quando devemos parar de comer. Os pais precisam respeitar esse importante mecanismo fisiológico de controle do peso, resistindo à tentação de estimular as crianças a comerem “só mais um pouquinho”, ou a “limparem o prato”, pois essas atitudes fazem com que esse sistema seja corrompido. A criança passa a consumir mais do que o organismo precisa, levando ao acúmulo de gordura corporal.
Dra. Daniele Zaninelli, endocrinologista do Hospital VITA Curitiba