Entrevista Jornal Gazeta do Povo – Caderno Viver Bem
Entre janeiro e setembro de 2014, o número de internações superou a média dos últimos seis anos no estado.
Visto pelas autoridades como um problema de saúde mundial – e em franca expansão –, o diabetes atinge hoje cerca de 382 milhões de pessoas em todo o planeta, segundo a Federação Internacional de Diabetes, e esse número deve chegar a 592 milhões daqui a duas décadas. No Paraná, o cenário também é preocupante. O estado registrou, somente neste ano, um aumento no número de internações decorrentes da doença. Em apenas nove meses, de janeiro a setembro de 2014, a quantidade de internações foi superior à média dos últimos seis anos, segundo o Ministério da Saúde.
Prevenção
Evitar os fatores de risco contribui para o controle da doença
As complicações do diabetes podem ser evitadas, ou pelo menos minimizadas, por meio de um bom controle dos níveis glicêmicos, além do cuidado com outros fatores de risco. “Atitudes como deixar de fumar, alimentar-se de forma saudável e praticar exercícios físicos regularmente ajudam a prevenir suas complicações”, afirma a médica Daniele Zaninelli.
O médico Edgard Niclewicz, professor da UFPR, ressalta que há medicamentos que controlam a doença tipo 2. “Mas o tratamento depende 50% do médico e 50% do paciente, que tem de se conscientizar e seguir a recomendação à risca. Se ele for cuidadoso, terá qualidade de vida.”
A Secretaria da Saúde do Paraná realiza um programa de capacitação aos profissionais dos municípios para que seja feito um atendimento multiprofissional nos casos mais graves. “Em Maringá e Toledo, o projeto já está andando e os pacientes são encaminhados para cardiologistas, nefrologistas, entre outros”, diz o médico André Ribeiro, da Sesa.
Oriente-se
Entenda quais são as diferenças entre os dois tipos de diabetes:
Tipo 1: doença autoimune que ocorre principalmente em crianças. Representa 10% de todos os casos no Brasil. A pessoa pode ter hábitos saudáveis e desenvolver a doença. Acontece devido a fatores genéticos e também ambientais. O pâncreas deixa de produzir quantidade suficiente de insulina, hormônio que ajuda a controlar a taxa de açúcar no sangue. É necessário medir seus níveis de glicose várias vezes ao dia e repor a insulina por injeções ou bomba de infusão, mantendo uma alimentação saudável.
Tipo 2: decorrente do excesso de peso e sedentarismo. Fatores genéticos também influem. Representa 90% dos casos. O pâncreas não produz insulina necessária ao organismo. Há uma desproporção de quanto o corpo precisa e de quanto produz. A insulina não consegue agir adequadamente para transformar glicose em energia, geralmente devido ao aumento da resistência periférica à ação do hormônio. Medicamentos, exercícios físicos e hábitos saudáveis são a solução.
Sintomas
Os sintomas mais comuns do diabetes são: sede excessiva; vontade frequente de urinar; muita fome; cansaço; visão turva; e emagrecimento. Em alguns casos, no entanto, a doença pode ser assintomática e retardar o diagnóstico e o tratamento, segundo os especialistas.
Nesse período, foram 11.042 internações no Paraná contra uma média anual de 9 mil nos últimos anos, a partir de 2008. Em todo o país, o índice médio é de 10 mil internações/mês. O Paraná possui hoje cerca de 740 mil diabéticos.
O número de internamentos decorrentes de complicações do diabetes é reflexo direto do maior índice de casos da doença. “É uma das maiores epidemias do mundo, com crescimento galopante. É uma doença que se tornou muito comum”, diz o endocrinologista Mauro Scharf. Ele explica que geralmente as internações ocorrem devido à descompensação da glicose no organismo.
Scharf chama a atenção para os cuidados com a doença, que pode provocar complicações cardiovasculares, insuficiência renal, cegueira e amputações provocadas por danos nos nervos periféricos. Se não for tratada, a doença pode levar à morte. “As principais causas de mortalidade no paciente diabético são o enfarte e o derrame”, afirma o médico.
Motivos
O sedentarismo somado à má alimentação e à obesidade são os fatores que mais contribuem para um maior número de diabéticos. “A incidência do diabetes vem aumentando no mundo todo, em todas as faixas etárias e de forma preocupante entre os mais jovens”, explica a endocrinologista Daniele Zaninelli. A médica salienta que há uma tendência em desenvolver diabetes quando há um maior consumo de alimentos ricos em açúcares e gorduras saturadas e menor consumo de alimentos ricos em fibras. “O sobrepeso e a obesidade têm relação direta com o aumento do risco de desenvolver diabetes.”
Nesse sentido, Scharf alerta para o risco das crianças desenvolverem a doença cedo. “Em muitos casos, as crianças praticam pouco exercício físico e se alimentam mal”, comenta. Para piorar, quase metade dos diabéticos não sabe que tem a doença. “O diagnóstico precoce, com tratamento adequado, pode prevenir as consequências”, diz Scharf.
Para alertar as pessoas sobre os riscos da doença é celebrado hoje o Dia Mundial do Diabetes. A Sociedade Brasileira de Diabetes criou um site (www.diamundialdodiabetes.org.br) com informações e calendário de atividades.
“Tenho uma vida normal”, diz Sarah, 7 anos
Sarah foi diagnosticada aos 2 anos com diabetes tipo 1. Hoje, aos 7, usa uma bomba de infusão de insulina todo dia. Só tira quando pratica natação. A menina, aliás, impressiona pela disposição e autocontrole. Não come e nem gosta de alimentos com açúcar, e sabe quando tem de medir a insulina do corpo. Além disso, pratica exercícios e tem ciência do que não pode fazer.
“Tenho uma vida normal. Só preciso medir minha glicemia. Ninguém precisa ter medo do diabetes”, diz Sarah. Tamanha confiança é resultado da orientação que a mãe, Ana Claudia Cendofanti, passou para a filha, sem tratá-la como “coitadinha” e buscando manter a normalidade na rotina. “Nem considero doença. É uma disfunção no organismo, que não produz insulina. Desde o começo aceitamos essa disfunção e mudamos os hábitos de vida para um estilo mais saudável”, conta.
Ana Claudia mantém sempre um “kit de sobrevivência” com a filha. Nele há até um manual para que os professores saibam o que fazer em caso de hipoglicemia (baixos níveis de açúcar) ou hiperglicemia (altos níveis de açúcar). “Sempre tem de carregar balas de banana, sucos naturais, água de coco, barras de frutas ou pastilhas de açúcar se ela tiver com hipoglicemia”, conta. Antes ou depois de cada refeição, Sarah recebe uma dose de insulina para manter os níveis dentro da normalidade.
A mãe zelosa montou também um grupo, o Família DM-1 Curitiba, que reúne uma vez por mês 40 famílias de diabéticos tipo 1 para conversar e trocar experiências.
Fonte: Gazeta do Povo
Publicado em 14/11/2014 | DIEGO ANTONELLI