Durante a gestação é natural que ocorra uma série de alterações hormonais e metabólicas. Estas mudanças são necessárias para garantir uma boa evolução da gravidez, mas em determinadas situações este processo pode sofrer interferências de fatores capazes de prejudicar o desenvolvimento do feto ou trazer complicações obstétricas. Muitos casos podem ser prevenidos de forma eficaz com cuidados simples, como os que serão discutidos a seguir. É importante salientar que muitos deles merecem atenção mesmo antes da concepção, e podem ter efeitos diretos na saúde tanto da mãe como do bebê que está chegando, não só durante o período neonatal, mas ao longo de toda a sua vida.

Quem está pensando em engravidar deve ficar atenta aos seguintes cuidados:

1. Como está a saúde da sua tireoide?

Mulheres que já sabem que tem problemas de tireoide devem garantir que seu controle esteja adequado antes mesmo de tentar engravidar. Isto é muito importante, pois o hipo ou o hipertireoidismo descompensado podem ter sérias implicações na evolução da gestação. Quem está planejando engravidar deve, antes de tudo, procurar um médico e realizar exames de controle, que devem ser analisados criteriosamente, já que os níveis de TSH (hormônio estimulante da tireoide) almejados não são aqueles que os laboratórios trazem como referência, além do que são diferentes para cada fase da gestação.

No hipotireoidismo (alteração mais comum) existe uma deficiência dos hormônios tireoidianos, levando a sintomas como cansaço, pele seca, queda de cabelos, unhas quebradiças, obstipação intestinal, inchaço e alterações no sono, todos muito comuns até mesmo numa gestação normal, o que torna importante a realização de exames de sangue para um diagnóstico correto. Outra manifestação pode ser a dificuldade para engravidar. A falta de reconhecimento e tratamento do hipotireoidismo já nas primeiras semanas de gestação, pode levar ao comprometimento do desenvolvimento da criança, prematuridade, baixo peso ao nascer, hemorragia pós parto, pré eclampsia, e complicações fetais. Um tratamento adequado reduz muito o risco de todas essas complicações.

2. Vitamina D e cálcio – as necessidades estão aumentadas na gravidez e na amamentação!

A vitamina D é um hormônio produzido a partir da ação dos raios solares sobre a pele. Uma de suas principais funções é garantir a absorção do cálcio proveniente da alimentação.  A deficiência de vitamina D é muito comum, e seu risco aumenta durante a gestação, período em que as mulheres são estimuladas a evitar a exposição ao sol. Outra preocupação é que as necessidades de cálcio aumentam durante a gravidez e amamentação, e não se pode haver risco de prejuízo na sua absorção.

A deficiência de vitamina D durante a gestação pode levar a consequências como baixo peso ao nascimento e redução da massa óssea tanto da mãe como do feto. Níveis baixos de vitamina D também foram associados com diabetes gestacional e pré-eclâmpsia. O diagnóstico é simples, através de exames de sangue. O tratamento deve seguir recomendações específicas para essa fase da vida da mulher.

3. Procure manter um peso saudável

Estudos mostram que mais de metade das mulheres está acima do peso. Essas mulheres estão mais sujeitas à infertilidade, com uma menor chance de sucesso nos tratamentos para esterilidade e aumento do risco de abortamento espontâneo.

Quanto maior o peso ao engravidar, maior é o risco de pré-eclampsia, diabetes gestacional, infecções urinárias, hemorragia e infecções puerperais, além do aumento do risco de morte, tanto durante a gravidez como no puerpério. Evidências recentes associam ainda a obesidade à dificuldade de amamentação.
Você sabia que a prevenção da obesidade infantil começa dentro do útero? Isso mesmo. A obesidade durante a gestação pode comprometer a programação metabólica do feto influenciando o peso, metabolismo e as futuras condições de saúde da criança. Fica então um alerta para a importância de manter hábitos saudáveis antes e durante a gestação, evitando o ganho excessivo de peso.

4. Diabetes e gestação 

Alterações da glicemia durante a gravidez são muito frequentes. Aqui devem ser consideradas duas situações distintas: aquela em que o diabetes já está presente ao engravidar; e o diabetes gestacional, que se manifesta durante a gravidez.

O diabetes pré-gestacional é mais grave. Principalmente quando não está bem controlado, pode gerar desde problemas com a fertilização e implantação do embrião, até malformações congênitas e abortos espontâneos. Esses riscos podem ser minimizados com um bom controle glicêmico, especialmente no momento da concepção e durante o primeiro trimestre da gravidez, ou seja, essas mulheres devem planejar a gestação, procurando obter um bom controle da doença antes de tentar engravidar.

Já o diabetes gestacional, que se manifesta na segunda metade da gestação, afeta principalmente o ritmo de crescimento fetal. O controle inadequado das glicemias pode levar à macrossomia (peso ao nascer acima de 4Kg), que está associada a problemas durante o parto, à hipoglicemia e à icterícia prolongada. As crianças cujas mães tiveram diabetes gestacional apresentam maior risco de desenvolver obesidade e diabetes no futuro. Mulheres que desenvolvem diabetes gestacional devem ser monitoradas periodicamente após o parto, pois estão mais sujeitas a desenvolver diabetes ao longo da vida.

5. Hidratação

A maioria das pessoas consegue uma boa hidratação orientando-se pela sede, mas durante a gestação e aleitamento as mulheres devem ser estimuladas a ingerir mais líquidos. Na gravidez recomenda-se a ingestão extra de 300ml ao dia, e durante a amamentação, de 700ml ao dia.

A água deve ser priorizada como fonte de hidratação, principalmente quando se objetiva controle do peso. Nesses casos até mesmo os sucos naturais devem ser controlados para restringir a ingesta calórica. O leite, principalmente na versão desnatada, deve ser privilegiado como opção de hidratação, ajudando a garantir um aporte adequado de cálcio tanto na gravidez como no aleitamento materno , onde seus requerimentos estão aumentados.

O cuidado com a saúde materna se reflete não só no  decorrer da gestação e do parto, mas durante toda a vida da criança, e essa é uma das maiores manifestações de amor que uma mãe pode dar a seu filho!

Escrito por

Especialista em Endocrinologia e Metabologia e mestre pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e atua na área há mais de 20 anos. É membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM),  e da Sociedade Brasileira para o Estudo da Obesidade (ABESO). Faz parte da diretoria da SBEM-PR.