A pandemia da Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, está colocando a saúde pública em primeiro plano para todos os membros da Obesity Society. Tem sido demonstrado que as manifestações do infecção vão do espectro da doença assintomática à infecção respiratória aguda grave.
A questão é que, embora a maioria das pessoas com Covid-19 não desenvolva sintomas ou tenha apenas manifestações leves, as evidências da China indicam que aproximadamente 14% desenvolvem doença grave com necessidade de hospitalização e suporte de oxigênio, enquanto 5% exigem admissão em uma unidade de terapia intensiva.
Para esses 5%, síndrome da angústia respiratória aguda (SARA), sepse e choque séptico, falência multiorgânica, incluindo lesão renal aguda e lesão cardíaca podem ocorrer.
Foram relatados como fatores de risco para doença grave e morte por Covid-19 a idade avançada e a presença de comorbidades. A prevalência de diabetes foi de 20% e de hipertensão de 30% nos primeiros casos analisados quanto a fatores de risco para doença grave.
Obesidade e coronavírus
A atual experiência europeia parece indicar casos cada vez mais graves entre as faixas etárias mais jovens. Pessoas com obesidade em todo o mundo já estão em alto risco de complicações graves da Covid-19 em virtude do aumento do risco de doenças crônicas que a obesidade gera.
Há sérias implicações para o sistema de saúde. O atendimento a pacientes obesos gravemente enfermos (5% das infecções) que necessitam de cuidados intensivos apresenta uma série de desafios como:
- Necessidade de mais leitos hospitalares bariátricos
- Intubações mais desafiadoras
- Maior dificuldade na obtenção de diagnóstico por imagem (existem limites de peso nas máquinas de imagem)
- Maior dificuldade de posicionamento e transporte pela equipe de enfermagem.
Leitos especiais e equipamentos de posicionamento/transporte estão disponíveis principalmente em unidades especializadas em cirurgia bariátrica, e podem não estar amplamente disponíveis em outros hospitais.
É provável que vejamos uma colisão dessas duas epidemias de saúde pública, a obesidade e o novo coronavírus.
O impacto da Covid-19 também será sentido fora da unidade de terapia intensiva. Pessoas com obesidade já vivem mais isoladas e evitam o contato social. Já estão estigmatizadas e já experimentam taxas mais altas de depressão.
Por fim, aprendemos muito com a gripe em pacientes com obesidade e quase certamente haverá paralelos com a nova doença.
Paralelos com H1N1
O Centers for Disease Control considera aqueles com IMC> 40 kg/m² como em risco de complicações da gripe.
Durante a pandemia do H1N1 de 2009, a obesidade foi reconhecida como um fator de risco independente para complicações da influenza. Portanto, é provável que a obesidade seja considerada como um fator de risco independente para a Covid-19.
De grande preocupação também é o fato de que as pessoas com obesidade parecem desenvolver menor proteção com a imunização contra influenza.
Conclusões
A pandemia do COVID-19 está desafiando o mundo de maneiras sem precedentes. Os editores da Obesity chamam a atenção para a epidemia da obesidade, e agora assumem a causa de nossos pacientes com obesidade diante dessa dupla ameaça de pandemia.
Referência bibliográfica:
- Donna H. Ryan, Eric Ravussin, e Steven Heymsfield. Obesity 2020, in press doi:10.1002/oby.22808.
Artigo publicado no Portal PEBMED em 27 Março de 2020.
Autora: Daniele C. Tokars Zaninelli, endocrinologista em Curitiba.