Ao recorrer aos esteroides anabolizantes para obter melhora da performance ou da aparência, é difícil quem não saiba que está se expondo a algum risco. Porém, muitos acreditam que seguindo as orientações corretamente ou fazendo acompanhamento médico periódico, estariam com a situação sob controle. Mas por que isso não funciona assim?

1 – Nenhum profissional, médico ou não, pode se dizer habilitado a prescrever anabolizantes de forma segura, pois não há dados na literatura que indiquem a dose ou tempo de uso, dentre as diversas substâncias disponíveis (de forma lícita ou não), que possam ser consideradas isentas de riscos. Esses dados não existem pelo simples fato de que estudos com essa finalidade nunca seriam aprovados por nenhuma comissão de ética, já que se trata de administrar substâncias com riscos bem definidos a jovens saudáveis, sem nenhuma indicação clínica que justificasse seu uso. Ou seja: não existe “jeito certo” de usar anabolizantes.

2 – O uso de anabolizantes nem sempre vem sozinho. É comum a associação a outros agentes farmacológicos com o objetivo de amplificar a resposta e tolerância aos treinos, como é o caso de outros agentes anabólicos, além de estimulantes, analgésicos, diuréticos, suplementos nutricionais, e até medicamentos para emagrecer. A resposta a essas interações não pode ser prevista. As complicações podem variar desde danos renais e hepáticos, até problemas cardíacos e morte.

3 – As consequências do uso de anabolizantes costumam se relacionar ao tipo de agente utilizado, à dose e tempo de exposição. Também é importante se levar em conta a predisposição individual a desenvolver complicações – mais um fator imprevisível. Isso quer dizer que quanto maior a dose e mais prolongado o uso, maior o risco de complicações.

Porém, uma parcela de usuários de anabolizantes pode apresentar problemas mesmo utilizando doses consideradas “baixas” – observando que qualquer dose administrada a um indivíduo que não seja portador de hipogonadismo (deficiência hormonal comprovada) é supra fisiológica e pode trazer problemas. Mesmo portadores de hipogonadismo necessitam de acompanhamento rígido, apesar do uso de doses consideradas fisiológicas.

4 – Os homens são os principais usuários dos esteroides anabolizantes, porém as mulheres podem sofrer mais com seus efeitos. Além de se expor aos mesmos riscos sistêmicos, podem apresentar ainda sinais de masculinização, frequentemente irreversíveis mesmo após a suspensão das drogas.

Abaixo segue uma lista com os principais efeitos colaterais do uso abusivo de anabolizantes:

Homens: Disfunção erétil, infertilidade, ginecomastia (aumento do tecido mamário), atrofia testicular.

Mulheres: Alterações menstruais, aumento de pelos, engrossamento da voz, atrofia mamária.

Ambos: Queda de cabelos, alterações hepáticas (hepatite e tumores), acne, estrias, alterações de comportamento, agressividade, risco de trombose por hipercoagulabilidade, inchaço e hipertensão arterial. Problemas cardíacos, renais, e potencial de dependência. Nos adolescentes pode comprometer a estatura final. Pode ainda estimular ou acelerar o crescimento de tumores.

5 – Apesar de variadas e suficientes para desestimular o uso indevido, as consequências à saúde não se limitam aos efeitos diretos dos esteroides anabolizantes no organismo:

– Existe a possibilidade de infecção pelo vírus do HIV ou da hepatite (no caso de compartilhamento de agulhas para injeções).

– Os usuários de anabolizantes são mais propensos ao abuso de álcool e opióides, além de outros comportamentos de risco.

– Risco do uso inadvertido de substâncias contaminantes, tanto em anabolizantes como em suplementos alimentares, que não constam no rótulo (muitos de uso proibido).

– Possibilidade de contaminação com bactérias (infecções locais e sistêmicas) e substâncias tóxicas no preparo clandestino de substâncias diversas.

As complicações do uso indiscriminado de anabolizantes são tão certas que os “especialistas” costumam associar a TPC (terapia pós-ciclo) em sua prescrição, prometendo, com isso, minimizar alguns dos efeitos colaterais esperados.

Mas será que a TPC pode realmente prevenir complicações?

No próximo artigo discutiremos como funcionam os ciclos de anabolizantes e a TPC.

 

 Saiba mais

O que são anabolizantes?
Anabolizantes – o que é importante saber

 

Referência bibliográficas:
Adverse health consequences of performance-enhancing Drugs: A Endocrine Society Scientific Statement – Endocrine Reniews, June 2014.
The adverse health consequences of the use of multiple performance-enhancing substances- a deadly cocktail – J Clin Endocrinol Metab, December 2013.
Anabolic steroid-induced hypogonadism: diagnosis and treatment – Fertlity ans Sterility, May 2014.
Suplementação Alimentar na prática Clínica – Publicado pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – Editado em 2016.