O leite de vaca inclui uma combinação complexa de macronutrientes, micronutrientes e fatores promotores de crescimento que podem contribuir para a nutrição de crianças e adultos, lembrando que podem ser supridos por outras fontes alimentares.

A principal justificativa do consumo adequado de leite pelos guias alimentares é atender às necessidades nutricionais de cálcio e reduzir o risco de fraturas ósseas. Nos EUA a recomendação é que se mantenha um consumo de 237ml por dia de leite ou derivados (leite, iogurte, queijo ou outros produtos). Já o guia alimentar para a população brasileira recomenda a ingestão de 3 porções de leite ou derivados ao dia, o que supriria 75% das necessidades diárias de cálcio para adultos.

Mas será que vale a pena consumir quantidades acima das recomendadas para obter benefícios à saúde? Veja a seguir:

SAÚDE ÓSSEA E RISCO DE FRATURAS

As evidências científicas não mostram benefícios que justifiquem o consumo de laticínios em quantidades maiores do que as recomendadas com o objetivo de prevenir fraturas. Ao contrário do que se pensava, consumir muito leite numa idade mais jovem não cria um “banco de reserva” de cálcio para o adulto mais velho.

CRESCIMENTO

O maior consumo de leite parece estar associado ao alcance de uma maior estatura. Se este efeito de promoção do crescimento é causado por aminoácidos específicos, hormônios anabólicos ou outros fatores, não está claro. Também é preciso salientar que a alta estatura tem sido associada a menores riscos de doenças cardiovasculares, mas se associa a riscos mais elevados de muitos tipos de câncer, fraturas de quadril e embolia pulmonar.

PESO CORPORAL E OBESIDADE

No geral, os achados dos estudos não mostram efeitos claros da ingestão de leite sobre o peso corporal em crianças ou adultos.

Algumas pesquisas mostram que o consumo regular de iogurte pode estar associado ao menor ganho de peso, no entanto, isso pode se dever ao estilo de vida geralmente mais saudável das pessoas que consomem iogurte regularmente.

PRESSÃO, COLESTEROL E DOENÇA CARDIOVASCULAR

É importante notar que o efeito de leite nas pesquisas clínicas muitas vezes depende do tipo de alimento ou bebida a que o leite é comparado. Se o leite entrar no lugar de bebidas adoçadas com açúcar ou outros carboidratos refinados, os resultados da troca provavelmente serão benéficos, mas isso pode ser diferente quando o leite entra no lugar de nozes, legumes ou frutas inteiras.

Recomenda-se preferir o consumo de produtos lácteos com baixo teor de gordura uma vez que gorduras saturados (cerca de 65% das gorduras lácteas são gorduras saturadas) aumentam o colesterol “ruim” (LDL), um fator de risco para doença coronariana.

Mas aqui os resultados também variam de acordo com o alimento ao que o leite é comparado. Tanto laticínios integrais como desnatados tiveram efeito semelhante no risco de doença cardíaca coronariana; entretanto ambos foram associados a um menor risco do que o do consumo do mesmo número de porções de carne vermelha. Já quando comparados ao consumo do mesmo número de porções de peixe ou nozes, representaram maior risco.

Além disso, para pessoas que vivem em países onde as dietas são muito ricas em amido, a ingestão moderada de alimentos lácteos pode reduzir o risco de doenças cardiovasculares, com benefícios com relação ao valor nutricional e à redução da carga glicêmica.

DIABETES

Em uma análise de substituição, o risco de diabetes foi menor com consumo de leite do que com o consumo de bebidas adoçadas com açúcar ou sucos de frutas, mas maior com o consumo de leite do que com consumo de café.

RISCO DE CÂNCER

O alto consumo de laticínios em pessoas susceptíveis pode aumentar os riscos de câncer de próstata e possivelmente câncer de endométrio, mas reduz o risco de câncer colorretal.

INTOLERÂNCIA E ALERGIAS

4% das crianças tem alergia às proteínas do leite, o que se associa a déficits nutricionais.

O leite de vaca poderia precipitar exacerbações de condições como asma, eczema e alergias alimentares.

MORTALIDADE

A ingestão de leite (seja integral ou desnatado), ou de alimentos lácteos, não foi associada à mortalidade geral. No entanto, quando se comparou entre as principais fontes de proteína, o consumo de alimentos lácteos foi associado com menor mortalidade do que o consumo de carne vermelha processado e ovos, com mortalidade semelhante ao consumo de carne vermelha não processada, aves e peixes, e com mortalidade significativamente maior do que o consumo de fontes vegetais de proteína.

LEITE DESNATADO OU INTEGRAL?

Nenhum benefício claro de consumir laticínios com baixo teor de gordura em relação aos laticínios integrais foi estabelecido.

E O LEITE ORGÂNICO? OFERECE VANTAGENS?

Não parece haver diferença nos efeitos à saúde entre leite de vaca orgânico e o convencional.

Em resumo: equilíbrio sempre! Hábitos saudáveis podem incluir a ingestão de leite e derivados, café, carnes magras e gorduras “boas”, além da prática de exercícios físico, sono adequado etc. Converse com seu endocrinologista e ajuste a melhor rotina para o seu estado de saúde, preferências e expectativas. Não vá atrás de modismos que enalteçam ou desqualifiquem alimentos específicos de forma radical.   

 
Fonte: New England of Medicine – Milk and Health – 2020. 
 
 
Autora: Daniele C. Tokars Zaninelli, endocrinologista em Curitiba.