O glúten é uma proteína vegetal presente em alimentos como o trigo, o centeio e a cevada.
Muita gente adere a uma dieta restrita em glúten na busca de perda de peso ou de uma vida mais saudável. Porém, antes de se privar do consumo de alimentos que podem fazer parte do seu dia a dia, como o pão, o macarrão e até mesmo a cerveja (neste caso existem outros motivos que justifiquem sua redução, mas a presença do glúten não é um deles), é importante avaliar se essa atitude trará bons resultados. Será que vale a pena fazer esse sacrifício?
*Por Drª Daniele C. Tokars Zaninelli
Antes de mais nada, verifique se você apresenta algum desses sintomas, comuns em pessoas com sensibilidade ao glúten:
– Diarréia
– Dor e distensão abdominal
– Flatulência
– Fraqueza, cansaço excessivo
– Perda de peso
– Anemia
– Deficiências nutricionais não explicadas
– Erupções cutâneas
– Redução na densidade óssea
– Infertilidade não explicada
Se você apresenta alguns dos sintomas citados acima, procure um especialista para uma avaliação, pois problemas digestivos são extremamente comuns. Cerca de 1 em cada 4 pessoas sofre com sintomas como dor e desconforto abdominal. É importante lembrar que existem inúmeros critérios clínicos, que, com o auxílio de exames complementares, permitem um diagnóstico etiológico preciso.
Devido à grande divulgação na mídia, muitas pessoas tiram o glúten de sua dieta por acreditar que ele seja o causador de seu desconforto.
Podemos dizer que a Doença Celíaca, principal causa de intolerância ao glúten, afeta cerca de 1 em cada 100 a 300 pessoas, e se constitui em apenas uma entre as inúmeras causas possíveis para os sintomas que afetam o trato gastrointestinal. Esta é uma doença incomum, que acomete indivíduos com predisposição genética. Nesses casos a dieta isenta de glúten se justifica, prevenindo as possíveis complicações da doença (osteoporose, infertilidade, deficiência de nutrientes, neoplasias do sistema digestivo). Podem existir ainda outros graus de sensibilidade à proteína.
Nos casos em que existem sintomas mas o diagnóstico de intolerância ao glúten não foi confirmado, e principalmente para as pessoas que estão buscando apenas emagrecimento ou uma vida mais saudável, a restrição de glúten não trará benefícios.
Os alimentos sem glúten não são menos calóricos do que os tradicionais, portanto não servem para emagrecer. Algumas pessoas perdem peso por que ao tirar o glúten da dieta acabam trocando alimentos ricos em açúcar e gordura por outros mais saudáveis, mas não é a ausência do glúten que emagrece.
Para quem ainda não se convenceu: um estudo publicado no Alimentary Pharmacology & Therapeutics/2012 demonstrou que quanto maior a adesão de pacientes celíacos à dieta livre de glúten, maior o ganho de peso ao longo do tempo, seja pela melhora da capacidade absortiva do intestino, seja pelas mudanças nos hábitos alimentares. O estudo chama a atenção para a importância de um acompanhamento nutricional especializado para prevenir o GANHO DE PESO que acontece com a DIETA SEM GLÚTEN nos celíacos.
Então, não existe segredo: uma alimentação equilibrada pode trazer bem estar sem sofrimentos desnecessários, pois é muito difícil aderir à dieta sem glúten e mantê-la a longo prazo, principalmente na ausência de uma indicação precisa. Isso pode levar à frustração, dificultando ainda mais a adesão a hábitos de vida saudáveis, que devem ser mantidos a longo prazo para viver mais e melhor!
*Daniele C. Tokars Zaninelli é médica e especialista em Endocrinologia e Metabologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e atua como endocrinologista em Curitiba.