Existe relação da libido com os níveis hormonais?

Sim, a maior parte das disfunções hormonais pode se manifestar com baixa libido, porém é importante lembrar que a libido está relacionada a muitas áreas da vida da mulher, e além do estado de saúde (que envolve as alterações hormonais), fatores como humor, cansaço, estresse e questões do relacionamento são muito importantes.

Como usar os hormônios a favor da libido?

Uma vida sexual saudável depende da interação entre múltiplos fatores, como uso de medicamentos, problemas psicológicos, questões do relacionamento com o parceiro, e problemas de saúde, entre eles as alterações hormonais.

E como saber se a culpa é dos hormônios?

É importante realizar uma avaliação clínica completa, que vai indicar quais os exames necessários para avaliar não só os níveis hormonais, como também as condições gerais de saúde.

Quando a avaliação clínica evidencia que existem alterações hormonais como as citadas abaixo, o manejo dessas condições poderá contribuir com a melhora da libido.

Hipotireoidismo: a deficiência do hormônio tireoideano pode levar à baixa libido. Seu diagnóstico é simples, com a dosagem do TSH. O tratamento adequado reverte os sintomas.

Aumento da prolactina: pode ser decorrente, por exemplo, de problemas na hipófise ou uso de medicamentos. Há uma queda dos níveis dos hormônios sexuais, e além da baixa libido pode se manifestar com alterações menstruais e galactorréia. A causa do distúrbio deve ser investigada, e o tratamento adequado é capaz de normalizar a secreção dos hormônios sexuais.

Tanto a falta como o excesso de cortisol podem levar à disfunção sexual.

Gestação e Amamentação: durante a gestação, o período pós-parto e a amamentação, muitas mulheres percebem redução da libido, o que não sofre influência exclusiva das variações hormonais típicas dessa fase, mas também do cansaço e das mudanças na imagem corporal e na rotina do casal. Nessa fase os problemas da tireóide se tornam mais comuns.

Ooforectomia (retirada cirúrgica dos ovários) e Menopausa: existe um desequilíbrio entre os níveis de hormônios femininos e masculinos no corpo da mulher, o que pode causar diminuição da libido. Nesses casos o tratamento de reposição hormonal pode ser benéfico.

Doenças da hipófise também podem requerer reposição hormonal.

Existe relação dos níveis de testosterona com a libido feminina?

Ainda não existem dados conclusivos quanto a associação dos níveis circulantes de hormônios masculinos e a libido em mulheres saudáveis em idade reprodutiva.

Apesar dos avanços científicos, não há dados suficientes para fazer recomendações sobre o uso de testosterona em mulheres na pré-menopausa.

A Endocrine Society não recomenda que seja feita a dosagem dos hormônios masculinos em mulheres para verificar se os níveis estão baixos, já que não existem parâmetros bem definidos para associar níveis sanguíneos teoricamente insuficientes com sinais e sintomas (como baixa libido, por exemplo), e tampouco com a resposta terapêutica.  

Fica um alerta

Não há indicações claramente estabelecidas para o uso de testosterona em mulheres na ré-menopausa.

Apesar disso, muitas mulheres acabam se submetendo a esse tipo de tratamento pela ideia popularmente difundida que seus níveis estariam associados à libido.

Como já discutido, essa relação ainda é motivo de muita controvérsia.

O uso de testosterona em mulheres pode levar a efeitos colaterais muito desagradáveis para a auto estima feminina, como acne, queda de cabelos com padrão masculino e aumento de pelos, além de engrossamento da voz e aumento do volume do clitóris, sendo alguns desses efeitos irreversíveis mesmo com a parada da medicação. O mesmo se aplica à DHEA, pois não existem dados suficientes com relação à eficácia ou segurança.

Por outro lado, na mulher pós menopausa pode haver indicação de prescrição de testosterona em doses que se aproximam das concentrações fisiológicas de testosterona vistos em mulheres na pré-menopausa. A prescrição deve ser cuidadosa e se aplica apenas ao diagnóstico de transtorno do desejo sexual hipoativo.

Não existem formulações aprovadas para o uso em mulheres disponíveis no mercado, então formulações transdermicas costumam ser prescritas de forma o4-label. Atenção: comprimidos, formulações injetáveis e implantes hormonais não podem ser prescritos nesses casos, devido ao elevado risco de complicações associadas. Essas pacientes devem estar em uso de terapia hormonal da menopausa antes da prescrição da testosterona.

O tratamento exige acompanhamento especializado.

Como é feita a Abordagem terapêutica da baixa libido?

Mulheres com queixas sexuais geralmente se beneficiam de uma abordagem que inclua, além da avaliação médica, análise de questões emocionais e do relacionamento.

Sempre devemos avaliar o uso de medicamentos que podem levar à disfunção sexual como efeito colateral, otimizando o tratamento da ansiedade ou depressão, se houver necessidade.

É importante realizar o tratamento de disfunções da tireoide ou outras alterações hormonais com o especialista, que irá avaliar os riscos e benefícios da terapia hormonal. Lembrar que a mesma requer monitoração frequente.

Especialmente na pós menopausa, além dos fatores hormonais relacionados à baixa libido, devemos sempre avaliar a presença de doenças crônicas, questões do relacionamento com o parceiro, estresse e alterações de humor.

3 Dicas de atitudes que podem dar um empurrãozinho na libido

  1. Mudança de hábitos: uma alimentação equilibrada e a prática regular de exercícios físicos podem reduzir o estresse e melhorar as condições de saúde de uma maneira geral.
  2. É importante verificar se o uso de medicamentos pode ser um dos fatores envolvidos.
  3. Outra dica importante é quanto à atenção que se dá ao sono. A maioria das pessoas precisa de 7 a 9 horas de sono por noite. Um estudo mostrou que no dia seguinte a uma boa noite de sono houve melhora da libido em mulheres, quando se comparou a menos horas de sono. Alguns pesquisadores sugerem que questões hormonais relacionadas ao sono poderiam afetar a resposta sexual, mas outras bases neurobiológicas ainda precisam ser melhor estudadas.

Outra questão a ser levantada é: se uma mulher tem mais tempo para dormir, ela também teria mais disponibilidade para o sexo?

Não existe um número de horas de sono que possa ser aplicado para todas as pessoas, o importante é se dar a oportunidade para que o sono seja suficiente e de boa qualidade, pois isso é importante para o humor, a saúde, e tantos outros aspectos do dia a dia!

 

Fonte: Global Consensus Position Statement on the Use of Testosterone Therapy for Women. JCEM. 2019

Escrito por

Especialista em Endocrinologia e Metabologia e mestre pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e atua na área há mais de 20 anos. É membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM),  e da Sociedade Brasileira para o Estudo da Obesidade (ABESO). Faz parte da diretoria da SBEM-PR.