A cirurgia bariátrica é uma das opções de tratamento para a obesidade e deve ser reservada para os seguintes casos:

1 – Pacientes com IMC acima de 35 Kg/m² com complicações clínicas associadas (ex: apneia do sono, hipertensão arterial, diabetes, colesterol alto, problemas articulares)
2 – Pacientes com IMC maior que 40 Kg/m²

Recomenda-se que um tratamento clínico para perda de peso seja tentado por pelo menos dois anos antes da indicação cirúrgica.

O paciente deve conhecer muito bem o procedimento cirúrgico a que se propõem, além de seus riscos e benefícios.

A decisão pela cirurgia bariátrica deve ser feita pelo paciente em parceria com a equipe médica que o está atendendo. O acompanhamento psicológico e o apoio da família são importantes em todas as fases do processo, pois o procedimento é complexo e passível de complicações, além de levar a mudanças drásticas nos hábitos de vida.

O preparo para a cirurgia bariátrica deve incluir uma avaliação clínica completa, além da realização de exames laboratoriais, endoscopia digestiva e ecografia abdominal, avaliação cardiológica e da função pulmonar.

Uma avaliação psicológica também deve ser realizada, e o tratamento de transtornos alimentares ou outras disfunções deve ser iniciado antes da cirurgia.

Acompanhamento nutricional especializado faz parte da rotina de acompanhamento.

A cirurgia bariátrica é contraindicada em casos de transtornos psiquiátricos não controlados, incluindo abuso de álcool e drogas ilícitas.

E por que a realização de exames antes da cirurgia bariátrica é tão importante?

  • Os exames podem evidenciar complicações clínicas associadas à obesidade, confirmando a indicação do procedimento de cirurgia bariátrica;
  • Apesar do risco de morbimortalidade do procedimento cirúrgico ser considerado baixo, precisamos lembrar que se trata de um procedimento invasivo e o risco de complicações deve ser minimizado. Os exames aumentam a segurança da cirurgia bariátrica e suas chances de sucesso;
  • A deficiência de vitaminas é comum em pacientes obesos. Os exames realizados antes da cirurgia bariátrica podem mostrar deficiências que devem ser corrigidas antes da sua realização.

Mulheres submetidas à cirurgia bariátrica devem aguardar em torno de 15 a 18 meses para engravidar, já que a grande perda de peso que ocorre nesse período pode afetar o crescimento e o desenvolvimento do feto.

A cirurgia bariátrica pode ser classificada em três tipos:

1. Cirurgia Restritiva – apenas diminui o tamanho do estômago, reduzindo a quantidade de alimentos que o estômago é capaz de comportar, o que leva à perda de peso.

São elas: Banda gástrica ajustável, Gastroplastia vertical com bandagem ou cirurgia de Mason e a Gastroplastia vertical em Sleeve.

2. Cirurgia disabsortiva – reduz a absorção intestinal dos alimentos.

3. Cirurgia mista – associa a redução do tamanho do estômago a um desvio do trânsito intestinal, ou seja, além da redução da ingestão existe uma diminuição da absorção dos alimentos.

As cirurgias mistas podem ser predominantemente restritivas (derivação gástrica com e sem anel) ou disabsortivas (derivações bileopancreáticas).

Modalidades da cirurgia bariátrica

No Brasil, são aprovadas quatro diferentes modalidades de cirurgia bariátrica, que estão descritas em detalhes no site da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica.

1. Bypass gástrico (gastroplastia com desvio intestinal em “Y de Roux”)

Estudado desde a década de 60, o bypass gástrico é a técnica de cirurgia bariátrica mais praticada no Brasil, correspondendo a 75% das cirurgias realizadas, devido à sua segurança e, principalmente, sua eficácia. O paciente submetido à cirurgia perde de 40% a 45% do peso inicial.

Nesse procedimento misto, é feito o grampeamento de parte do estômago, que reduz o espaço para o alimento, e um desvio do intestino inicial, que promove o aumento de hormônios que dão saciedade e diminuem a fome. Essa somatória entre menor ingestão de alimentos e aumento da saciedade é o que leva ao emagrecimento, além de controlar o diabetes e outras doenças, como a hipertensão arterial.

bariátrica1semfundo

2. Banda gástrica ajustável

Criada em 1984 e trazida ao Brasil em 1996, a banda gástrica ajustável representa 5% dos procedimentos realizados no país para cirurgia bariátrica. Apesar de não promover mudanças na produção de hormônios como o bypass, essa técnica é bastante segura e eficaz na redução de peso (20% a 30% do peso inicial), o que também ajuda no tratamento do diabetes.

Instala-se anel de silicone inflável ajustável ao redor do estômago, que aperta mais ou menos o órgão, tornando possível controlar o esvaziamento do estômago.

bariátrica2semfundo

3. Gastrectomia vertical

Nesse procedimento, o estômago é transformado em um tubo, com capacidade de 80 a 100 mililitros (ml). Essa intervenção provoca boa perda de peso, comparável à do bypass gástrico e maior que a proporcionada pela banda gástrica ajustável. É uma cirurgia bariátrica relativamente nova, praticado desde o início dos anos 2000. Tem boa eficácia sobre o controle da hipertensão e de doenças dos lípides (colesterol e triglicérides).

bariátrica3semfundo

4. Duodenal Switch

A associação entre gastrectomia vertical e desvio intestinal. Nessa cirurgia, 85% do estômago é retirado, porém a anatomia básica do órgão e sua fisiologia de esvaziamento são mantidas. O desvio intestinal reduz a absorção dos nutrientes, levando ao emagrecimento. Criada em 1978, a técnica corresponde a 5% dos procedimentos de cirurgia bariátrica e leva à perda de 40% a 50% do peso inicial.

Pós operatório da cirurgia bariátrica

É importante lembrar que a cirurgia bariátrica facilita muito a perda de peso, mas ela não pode ser considerada a cura da obesidade. Costumamos dizer que, com a realização da cirurgia, estamos trocando o problema da obesidade por outros problemas associados ao procedimento, o que, no cômputo geral, deve trazer mais benefícios do que riscos à saúde.

Porém, para que isso ocorra de modo satisfatório, é importante realizar a monitorização da perda de peso e das complicações depois da cirurgia decorrentes de possíveis déficits de absorção de nutrientes. Esse acompanhamento será realizado pelo endocrinologista periodicamente.

Se o procedimento cirúrgico não estiver associado a mudanças de hábitos de vida (alimentação equilibrada e atividade física regular), pode haver recuperação do peso.

As complicações nutricionais são mais comuns em cirurgias mais disabsortivas, que podem levar a deficiências vitamínicas com alterações clínicas significativas, como perda de massa óssea (osteopenia/osteoporose), queda de cabelos, alterações neurológicas, imunológicas e de coagulação sanguínea, entre outras.

A maioria delas pode ser prevenida com um acompanhamento clínico adequado a longo prazo. Reposições vitamínicas podem ser necessárias após a cirurgia bariátrica e serão mantidas por tempo indeterminado.

Em alguns casos a cirurgia plástica será indicada para retirada do excesso de pele ou outras correções que se mostrem necessárias. Em geral isso é feito cerca de dois anos após a cirurgia bariátrica, quando a perda de peso estiver estabilizada.

Fonte das ilustrações: Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica

Escrito por

Especialista em Endocrinologia e Metabologia e mestre pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e atua na área há mais de 20 anos. É membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM),  e da Sociedade Brasileira para o Estudo da Obesidade (ABESO). Faz parte da diretoria da SBEM-PR.