A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é a condição endócrina mais comum em mulheres e, ainda assim, existe confusão em relação ao seu diagnóstico e tratamento, principalmente na adolescência.

O ENDO 2021, congresso promovido pela Endocrine Society, trouxe à discussão o impacto da SOP em mulheres jovens, e a importância do diagnóstico adequado, bem como do tratamento precoce, que são cruciais para otimizar a saúde a curto e longo prazo dessas pessoas.

Um simpósio apresentado por três grandes especialistas no assunto trouxe uma abordagem baseada em evidências para diagnosticar e controlar a SOP em meninas adolescentes com o objetivo de otimizar sua saúde metabólica e reprodutiva durante a puberdade e além.

Síndrome dos ovários policísticos

A síndrome dos ovários policísticos é uma desordem endócrina de etiologia incerta e afeta 1 em cada 10 mulheres em idade reprodutiva. A SOP pode manifestar-se através de um largo espectro de riscos relacionados à saúde reprodutiva, cardiometabólica e psicossocial.

Suas manifestações podem se tornar evidentes já na adolescência, entretanto essas pacientes são mais frequentemente diagnosticadas quando adultas. Cerca de um terço das mulheres referem atraso no diagnóstico de dois anos ou mais, sendo geralmente avaliadas por três ou mais profissionais de saúde antes da realização do diagnóstico.

Os sinais cardinais da SOP incluem: disfunção ovulatória, hiperandrogenismo e morfologia ovariana alterada. Na mulher adulta o diagnóstico é realizado na presença de dois dos três critérios citados, desde que excluídas outras causas para anovulação e hiperandrogenismo.

SOP em adolescentes

Existem diferenças quando se trata do diagnóstico de SOP em adolescentes:

1 – A ultrassonografia não deve ser usada para o diagnóstico de SOP em pacientes com idade ginecológica <8 anos (<8 anos após a menarca), devido à alta incidência de ovários multifoliculares nesta fase da vida.
2 – O diagnóstico de SOP não deve ser feito antes de dois anos após a menarca.
Para adolescentes que têm características de SOP, mas não atendem aos critérios diagnósticos, um “risco aumentado” pode ser considerado, e a reavaliação é aconselhada ao atingir a maturidade reprodutiva, oito anos após a menarca.

Identificação e tratamento precoces

É importante ressaltar que a morfologia policística dos ovários não é necessária para o diagnóstico de SOP. Entretanto, além do potencial de auxiliar no diagnóstico da disfunção, o aspecto ultrassonográfico pode refletir a sintomatologia da SOP. O diâmetro, número de folículos e características do estroma ovariano se correlacionam com fatores clínicos e endocrinológicos, e, por conseguinte, com a severidade do distúrbio reprodutivo e metabólico em mulheres com SOP.

Visto o risco metabólico e reprodutivo a que essas pacientes estão expostas, há consenso crescente de que a identificação precoce da SOP é fundamental. Deve-se promover estilo de vida saudável e bem-estar emocional desde cedo.

É importante implementar mudanças de estilo de vida (dieta e atividade física) precocemente, prevenindo assim o ganho de peso e suas implicações à saúde. Mesmo perdas de peso modestas podem trazer benefícios metabólicos, reprodutivos e psicossociais em adolescentes com SOP. Melhorias no estilo de vida iniciadas nessa fase da vida frequentemente persistem na vida adulta.

 

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Referências bibliográficas:

  • International evidence-based guideline for the assessment and management of polycystic ovary syndrome 2018.
  • ENDO2021: PCOS in Adolescence and Beyond.

 

Artigo publicado no Portal PEBMED em 29 Março de 2021.

 

Autora: Daniele C. Tokars Zaninelli, endocrinologista em Curitiba.