Hoje teve início o ENDO 2021, congresso da Endocrine Society. O sistema endócrino na pandemia Covid-19 foi o tema da pré-sessão do evento, e o primeiro tópico abordado foi a relação entre sinalização androgênica e gravidade da infecção pelo novo coronavírus.

Sinalização androgênica e Covid-19

Pesquisador da Universidade e Michigan, o Dr. Arul Chinnaiyan trouxe questões quanto à relação do câncer de próstata e seu tratamento com a Covid-19. Falou sobre o impacto do gênero e dos hormônios sexuais na evolução da doença, comentando também achados recentes de estudos que mostram possíveis benefícios do uso de antagonistas dos receptores androgênicos no tratamento da infecção.

Os homens são desproporcionalmente afetados pela Covid-19 em relação às mulheres em termos de mortalidade e morbidade. As razões para essas disparidades de gênero podem ser multifatoriais, mas uma possível explicação poderia ser a diferença nos níveis de hormônios sexuais, como andrógenos, e as redes de sinalização transcricional que subsequentemente ocorrem em homens versus mulheres.

Dados clínicos de pacientes com Covid-19 demonstraram que as doenças da próstata, que estão ligadas a andrógenos elevados, são fatores de risco significativos, e que as variantes genéticas que aumentam os níveis de andrógenos estão associadas a uma maior gravidade da doença.

O SARS-CoV-2 emprega duas proteínas-chave do hospedeiro para entrar e se replicar dentro das células: a enzima conversora de angiotensina 2 (ACE2) e a serina protease transmembrana da superfície celular 2 (TMPRSS2). Os andrógenos regulam a expressão de ACE2, TMPRSS2 e receptor de andrógeno (AR) em subconjuntos de células epiteliais pulmonares, e os níveis de AR são marcadamente elevados em homens em relação às mulheres com mais de 70 anos de idade.

Sendo a infecciosidade viral do SARS-CoV-2 provavelmente regulada indiretamente por andrógenos, a redução da expressão de TMPRSS2 pela inibição do receptor de andrógeno provavelmente diminuiria a entrada do SARS-CoV-2 nas células humanas. Tomados em conjunto, vários estudos (in vitro, epidemiológicos e em animais) sugeriram que o bloqueio da sinalização de andrógenos poderia ser protetor contra a Covid-19.

Proxalutamida

Por fim o Dr Arul citou o estudo realizado no Brasil por Cadegiani e cols, avaliando os efeitos da proxalutamida no tratamento precoce de homens e mulheres com Covid-19. Ela teria um duplo mecanismo de ação na supressão do AR.

Além de direcionar o antagonismo de AR, a proxalutamida demonstrou diminuir a expressão de AR, um mecanismo que não está presente na bicalutamida ou na enzalutamida. Os resultados mostraram que o tratamento aumentou a depuração viral da SARS-CoV-2 no dia sete e reduziu o número médio de dias para a remissão clínica de Covid-19 quando comparado ao placebo.

Mais do congresso:

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Referências bibliográficas:

  • Samuel et al. Androgen Signaling Regulates SARS-CoV-2 Receptor Levels and Is Associated with SevereCOVID-19 Symptoms in Men. Cell Stem Cell27, 876–889December 3, 2020.
  • Qiao et al. Targeting transcriptional regulation of SARS-CoV-2 entry factors ACE2 and TMPRSS2. PNAS
  • Cadegiani et al. Proxalutamide Significantly Accelerates Viral Clearance and Reduces Time to Clinical Remission in Patients with Mild to Moderate COVID-19: Results from a Randomized, Double-Blinded, Placebo-Controlled Trial. Cureus. 2021 Feb; 13(2): e13492

 

Artigo publicado no Portal PEBMED em 29 Março de 2021.

 

Autora: Daniele C. Tokars Zaninelli, endocrinologista em Curitiba.