No sentido literal, os Hormônios Bioidênticos são substâncias que possuem a mesma estrutura molecular dos hormônios produzidos naturalmente pelo corpo humano.

Como estratégia de marketing, o termo bioidêntico ganhou um novo significado, referindo-se, em geral, a produtos “customizados”, e é dentro desse contexto que o termo será tratado nesse artigo.

Ao contrário do que vem sendo divulgado, o uso dos bioidênticos não é novidade. Quando um endocrinologista prescreve medicamentos industrializados contendo tiroxina para o tratamento do hipotireoidismo, progesterona e estradiol para a reposição na menopausa ou ainda testosterona e hormônio do crescimento, está receitando hormônios cuja estrutura é igual à daqueles produzidos pelo nosso organismo, ou seja, está usando bioidênticos, importantes ferramentas no tratamento das deficiências hormonais.

Infelizmente esse termo vem sendo utilizado indevidamente para dar um ar de “natural” ou “personalizado” a combinações de hormônios produzidos de forma artesanal, como se fossem uma evolução de tratamentos consagrados ao longo do tempo. Como se fossem modernos.

O maior perigo é que muitas pessoas acreditam que esses produtos são isentos de riscos, levando, por exemplo, mulheres com histórico de câncer de mama – onde a reposição hormonal está contraindicada – a procurar reposição hormonal com bioidênticos, por acreditarem que estes seriam isentos dos riscos atribuídos ao tratamento convencional. É assustador imaginar que tantas mulheres possam estar colocando sua saúde em risco dessa forma, e o pior, acreditando que estão procurando o melhor caminho.

É importante lembrar que são necessários longos estudos e grandes investimentos para chegar a conclusões confiáveis sobre a segurança e efetividade de cada medicamento aprovado para produção e distribuição pela indústria farmacêutica. Testes em laboratório e pesquisas clínicas são capazes de demonstrar quando os efeitos benéficos superam os seus riscos. As bulas trazem suas indicações e contraindicações, além indicar seus possíveis efeitos colaterais. A transparência com que esses dados são abordados acaba gerando insegurança por parte de muitos pacientes. Já os bioidênticos não trazem nenhuma informação quanto a isso por que não foram estudados adequadamente, gerando a falsa impressão de que não trariam riscos, mas não é por que os riscos não são reconhecidos que eles não existem.

Apesar das preocupações sobre o perfil de eficácia e segurança dos hormônios bioidênticos, pesquisas mostram que seu uso tem aumentado de forma alarmante, correspondendo a mais de metade das prescrições de reposição hormonal para mulheres acima dos 40 anos nos Estados Unidos, observando que essas prescrições em geral não são feitas por endocrinologistas, mas por médicos sem especialização na área.

 

Veja abaixo 8 mitos e verdades sobre os hormônios bioidênticos:

 

Mito: Hormônios Bioidênticos são naturais, e portanto, superiores aos convencionais.

Fato: Hormônios Bioidênticos podem ser derivados de produtos vegetais, por exemplo, mas eles necessitam ser processados para se tornar comercialmente bioidênticos, então não podem ser considerados “naturais”.

 

Mito: Os Hormônios Bioidênticos oferecem menos riscos do que os hormônios industrializados.

Fato: Análises mostram uma grande variabilidade nos tipos e proporções de hormônios em produtos manipulados, o que não permite a realização de estudos grandes e bem planejados para avaliar sua segurança e eficácia, tornando impossível a previsão dos riscos associados a seu uso. Esses riscos podem variar desde a simples falta de resolução dos sintomas até problemas cardiovasculares e alguns tipos de câncer.

 

Mito: Hormônios manipulados podem ser associados em combinações variáveis, de acordo com a necessidade de cada paciente.

Fato: Apesar de alguns ingredientes individuais usados nos produtos bioidênticos manipulados serem aprovados pelos órgãos de vigilância sanitária, a combinação de hormônios e veículos em que eles são produzidos não são aprovados por falta de evidências de segurança e eficácia. Quando testados, potência e padrões de absorção hormonal são altamente variáveis.

 

Mito: Fórmulas manipuladas são mais seguras que as apresentações disponíveis nas farmácias.

Fato: Medicamentos customizados não sofrem o rígido controle exigido da indústria farmacêutica, que usa tecnologia de ponta para garantir a dosagem, estabilidade, absorção, eficácia e segurança de seus produtos. Medicamentos manipulados estão sujeitos ainda a um maior risco de contaminação.

 

Mito: O uso de bioidênticos permite um tratamento individualizado da menopausa quando é baseado em dosagens hormonais seriadas.

Fato: O tratamento baseado em evidências apoia-se na avaliação clínica das pacientes, e não em resultados de testes laboratoriais, pois não há correlação entre seus níveis e os efeitos clínicos do tratamento.

 

Mito: Tratamentos baseados em dosagens hormonais na saliva permitem imitar os níveis hormonais naturais do paciente.

Fato: Os níveis hormonais encontrados na saliva não refletem os níveis teciduais e podem variar de acordo com a hora do dia, hora da refeição e ingestão dietética. Além disso, mulheres com níveis hormonais semelhantes na saliva ou no soro podem metabolizar os hormônios de formas diferentes.

 

Mito: O uso de bioidênticos pode retardar o envelhecimento.

Fato: Os hormônios são excelentes opções para o tratamento de deficiências hormonais comprovadas em todas as idades, mas não há nenhuma comprovação de que possam retardar o envelhecimento. Não existem evidências de que o envelhecimento seja causado pela redução da produção hormonal, sendo assim, o uso de hormônios não deve ser feito com o objetivo de prevenir, retardar, modular e/ou reverter o processo de envelhecimento. Também é importante lembrar que os idosos são mais suscetíveis aos efeitos adversos de medicamentos, e seu uso exige muita cautela.

 

Mito: A reposição hormonal da menopausa com produtos naturais não traz os riscos da terapia convencional.

Fato: Nenhum estudo foi capaz de demonstrar que terapias alternativas seriam mais seguras ou eficazes do que a reposição hormonal convencional da menopausa. Mesmo os produtos naturais estão sujeitos a riscos e efeitos colaterais.

 

 

Referências Bibliográficas:
Compounded Bioidentical Hormones in Endocrinology Practice: An Endocrine Society Scientific Statement J Clin Endocrinol Metab, April 2016, 101(4):1318 –1343.
Preparations for menopausal hormone therapy – UpToDate: May 02, 2016.
Bioidentical Hormones for Menopause: What Should We Tell Our Patients? – Medscape December 15, 2015.
Posicionamentos da Soc. Bras. De Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e Soc. Bras. de Geriatria e Gerontologia.