O iodo é indispensável para a produção dos hormônios tireoideanos T3 (triiodotironina) e T4 (tiroxina). Seus níveis devem estar em equilíbrio no organismo, pois tanto a falta quanto o excesso de iodo podem levar a problemas de tireoide, como nódulos, hipo ou hipertireidismo.

Adultos normais devem consumir pelo menos 150mcg de iodo ao dia, sendo que durante a gestação e a amamentação o requerimento diário aumenta, ficando em torno de 250mcg.

O iodo pode ser obtido a partir do consumo de alimentos que o contenham naturalmente, como os frutos do mar, ou a partir do sal de cozinha (ou sal iodado), nossa principal fonte deste nutriente.

Estudos populacionais mostram que os brasileiros consomem, diariamente, pelo menos o dobro da quantidade de sal recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Com base nisso, em 2013 a quantidade de iodo adicionado ao sal de cozinha foi reduzida, com o objetivo de minimizar o risco das consequências clínicas, muitas vezes irreversíveis, do consumo excessivo de iodo.

Apesar disso, alguns profissionais têm publicado uma série de vídeos e textos em diversos meios de comunicação, afirmando que a reposição de iodo em “altas doses” traria benefícios à saúde.

Uma substância frequentemente prescrita por esses profissionais é o LUGOL a 5%. O que preocupa nesse cenário, é que apenas 1 gota desse preparado contém 6.500mcg de iodo , ou seja, cerca de 43 vezes a dose diária recomendada pela OMS.

A Associação Americana de Tireoide alerta para o fato de que um consumo diário total (incluindo o conteúdo alimentar e a suplementação) acima de 1.100mcg leva a um maior risco de disfunções da tireoide.

Em termos práticos, o consumo diário de 1 colher de chá de sal de cozinha seria o suficiente para se manter níveis adequados de iodo, lembrando que isso inclui o sal adicionado aos alimentos preparados em casa, além daquele contido nos alimentos industrializados. Sendo assim, fica fácil perceber que qualquer suplementação, mesmo com produtos que contém doses controladas de iodo (150mcg por cápsula), deve ser feita com cautela, pois níveis próximos à ingesta máxima recomendada podem ser facilmente atingidos.

Veja abaixo quais as principais consequências do excesso de iodo no organismo, e entenda a gravidade das recomendações feitas por profissionais que preferem a fama obtida através de mensagens sensacionalistas – que vão totalmente contra o conhecimento científico atual – em detrimento das consequências à saúde de milhares de pessoas, que, confusas com informações dúbias, acabam se arriscando em busca de saúde e bem estar.

Estão mais sujeitos às complicações pelo excesso de iodo:

  • lactentes
  • idosos
  • mulheres grávidas ou que estão amamentando
  • indivíduos com doença tireoideana preexistente (tireoidite, nódulos) – que muitas vezes desconhecem essa condição por não apresentarem sintomas evidentes.

A administração de grandes quantidades de iodo, seja através de medicamentos (ex:Amiodarona), procedimentos radiológicos que usam contraste iodado, ou mesmo o consumo excessivo através da dieta (algas) ou da suplementação (doses maiores do que 500mcg de iodo ao dia), podem causar ou piorar tanto o hipertireoidismo como o hipotireoidismo.

Pacientes submetidos a qualquer uma dessas situações devem ser monitorados através de avaliações clínicas e exames laboratoriais periódicos, incluindo a dosagem de TSH e T4 livre, que refletem o impacto do excesso de iodo na função tireoideana.

Como o problema acontece?

A exposição aguda ao excesso de iodo inibe a produção dos hormônios tireoideanos. Esse fenômeno é conhecido como efeito Wolff-Chaikoff. Depois de uma fase inicial de hipotireoidismo, esse quadro pode se transformar em hipertireoidismo.

Esse processo pode ser reversível com a normalização do consumo de iodo, ou pode se desenvolver um quadro autoimune, como a tireoidite de Hashimoto, exigindo tratamento com reposição do hormônio tireoideano por toda a vida.

Há ainda um provável envolvimento do excesso de iodo no aumento do número de casos de câncer de tireoide.

E atenção gestantes: A ingestão excessiva de iodo durante a gravidez pode levar a problemas no funcionamento da tireoide fetal, o que pode resultar em uma inibição prolongada da síntese do hormônio tireoideano, essencial para o crescimento e desenvolvimento (especialmente do sistema nervoso central) do bebê, com aumento do TSH e do volume da tireoide fetal (bócio).

Como a deficiência de iodo também pode trazer consequências à gestação e ao desenvolvimento do bebê, suplementos podem ser prescritos pelo médico assistente quando necessário, em doses controladas.

Concluindo

Considerando-se o Limite Superior Tolerável de 1100 mcg de iodo ao dia, a ingestão de suplementos contendo mais de 500 mcg de iodo não é recomendada!

Escrito por

Especialista em Endocrinologia e Metabologia e mestre pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e atua na área há mais de 20 anos. É membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM),  e da Sociedade Brasileira para o Estudo da Obesidade (ABESO). Faz parte da diretoria da SBEM-PR.