*Daniele C. Tokars Zaninelli

 

Popularmente conhecida como gordura no fígado, a esteatose hepática tem se tornado um achado clínico cada vez mais frequente. Quando não está associada ao consumo de álcool ou a doenças hepáticas específicas, é chamada de esteatose hepática não alcoólica, o que vem crescendo paralelamente aos índices de obesidade.

Antes tida como indolente, hoje sabe-se que pode trazer uma série de problemas, não só para o fígado, mas para a saúde como um todo. A presença da esteatose hepática indica um maior risco de desenvolver pré-diabetes, diabetes, hipertensão arterial e morte por doença isquêmica cardíaca.

Sua fisiopatologia está intimamente ligada ao excesso de peso. O fígado sofre com a presença da gordura, que deveria estar armazenada no tecido adiposo. Como consequência pode se desenvolver uma resposta inflamatória desregulada e resistência à insulina. A agressividade da doença está associada ao grau de inflamação e fibrose que se desenvolvem no fígado. A evolução pode ser variável, desde uma doença inofensiva até prejuízo da função hepática, cirrose e carcinoma hepatocelular.

Apesar de a maior parte das pessoas com sobrepeso ou obesidade apresentarem esteatose hepática, aqueles com peso normal para altura, porém com excesso de gordura visceral, os falsos magros, também estão sujeitos a desenvolvê-la. Quase 90% dos pacientes com esteatose hepática são portadores de síndrome metabólica (uma combinação de fatores como excesso de gordura visceral, alterações do colesterol e/ou da glicose sanguínea, e pressão alta), o que, assim como a obesidade e o diabetes, leva a uma chance maior de desenvolver doença hepática progressiva.

Em geral a esteatose hepática não provoca sintomas, e muitas pessoas a descobrem ao realizar exames de sangue ou de imagem do abdômen, geralmente solicitados por outros motivos. Um desconforto no quadrante superior direito do abdômen ou até mesmo cansaço inexplicado podem estar presentes. E então? O que fazer nesses casos? Como saber se é preciso se preocupar?

É importante diferenciar os casos de esteatose simples daqueles com esteato hepatite (presença de inflamação e fibrose em graus variáveis). Alguns parâmetros clínicos associados a exames laboratoriais, de imagem, e eventualmente à biópsia hepática, podem indicar quais são os casos que merecem atenção especial.

Mudanças no estilo de vida com uma alimentação equilibrada e atividades físicas regulares são a base do tratamento. Existem medicamentos em estudo, porém ainda é necessária confirmação de segurança e eficácia. Tanto a perda de 7% do peso corporal como a prática de 150 – ou preferencialmente 250 – minutos por semana de exercícos físicos moderados (aeróbicos ou de resistência) são estratégias efetivas no manejo da esteatose hepática não alcoólica.

Algumas atitudes podem proteger o fígado de agressão adicional. Recomenda-se evitar o consumo de bebidas alcoólicas e checar a vacinação contra as hepatites virais. Já o transplante hepático pode ser a única opção para pacientes com doença em estágio avançado.