Doenças da tireoide

A tireoide está localizada na região anterior do pescoço, logo abaixo do pomo de Adão. É a glândula responsável pela produção dos hormônios tireoidianos, T3 (triiodotironina) e T4 (tiroxina), que por sua vez atuam em praticamente todo o organismo, regulando seu funcionamento.

Os problemas de tireoide têm se tornado cada vez mais frequentes, e são até 8 vezes mais comuns nas mulheres que nos homens.

Muitas patologias podem acometer esta glândula, que tem ações tão importantes em nosso metabolismo. Cada uma tem sua particularidade, com manifestações variáveis de acordo com o sexo e a idade do indivíduo acometido.

Disfunções hormonais

Um complexo sistema controla a produção e a ação de todos os nossos hormônios, que devem ficar em estado de equilíbrio. Quando os hormônios da tireoide são produzidos em quantidade insuficiente surge o hipotireoidismo, marcado por sintomas como cansaço excessivo, pele seca, queda de cabelos, unhas descamativas, alterações de memória e de humor, alterações menstruais, maior sensibilidade ao frio, sonolência, intestino preso, entre outros. Já o hipertireoidismo se deve ao aumento dos níveis dos hormônios tireoidianos, e cursa com sintomas como perda de peso (apesar de aumento no apetite), fraqueza, sensação de calor excessivo, palpitações, tremores, irritabilidade e insônia. Apesar de haver outras causas, tanto o hipotireoidismo quanto o hipertireoidismo costumam estar associados a processos autoimunes, onde o próprio organismo leva à formação de anticorpos que interferem na função e na estrutura glandular.

A incidência das patologias que afetam a tireoide vem aumentando progressivamente, e os mecanismos desse processo ainda não são bem conhecidos. Sabe-se que a incidência das doenças autoimunes aumenta com a idade, e o hipotireoidismo chega a atingir cerca de 12 a 15% dos idosos (> 65 anos).

Sempre que houver suspeita clínica de descontrole hormonal, o diagnóstico deverá ser confirmado através de exames de sangue específicos (TSH e T4 livre), pois sintomas semelhantes podem ser observados em diversas situações clínicas. Por outro lado, cerca de 20 a 30% dos pacientes com hipotireoidismo não percebem qualquer sintoma, o que leva à necessidade de monitorar mais de perto os grupos mais susceptíveis ao seu desenvolvimento, como: mulheres em idade fértil e aquelas com mais de 50 anos de idade, além daqueles que tem um parente próximo, como pais, irmãos ou avós, com problemas de tireoide. Também merecem observação pacientes que foram submetidos à cirurgia de tireoide ou receberam irradiação no pescoço ou tórax, ou que já foram submetidos a algum tratamento para hipertireoidismo no passado, seja com medicações ou iodo radiativo.

Atenção especial deve ser dada às mulheres que estão se preparando para engravidar e às gestantes, pois níveis hormonais adequados são muito importantes para a fertilidade, para o desenvolvimento do bebê, e para a boa evolução da gestação. 

Vale lembrar que nessa situação a interpretação dos exames não é a mesma utilizada para a população geral. Cada caso deve ser avaliado individualmente de acordo com as características de cada paciente e do momento da gestação. Quando indicado, o tratamento deve ser instituído o mais brevemente possível, de preferência antes da concepção, conseguindo-se com isso minimizar os riscos obstétricos.

O hipotireoidismo é uma doença de fácil tratamento, porém exige o uso regular da medicação, o que garante uma qualidade de vida normal aos seus portadores. É importante que o acompanhamento pelo especialista seja feito periodicamente, pois ajustes na dose da medicação costumam ser necessários. 

Nódulos de tireoide

Além das disfunções hormonais, a tireoide pode apresentar-se com aumento de volume (bócio), ou desenvolver nódulos, que podem ser benignos ou malignos.

Os nódulos tireoidianos são muito frequentes. Podem ser encontrados durante a palpação da glândula, num exame clínico de rotina, em cerca de 7% das mulheres e 1% dos homens. Já quando se emprega métodos mais sensíveis, como a ecografia de tireoide, passam a ser diagnosticados em maior proporção. A incidência dos nódulos aumenta com a idade, sendo detectados em até 90% das mulheres acima de 70 anos, e em até 80% dos homens com mais de 80 anos.

As características do nódulo à ecografia podem indicar a necessidade de se prosseguir a investigação com a punção do nódulo seguida por avaliação citológica do material coletado, exame que consegue definir a natureza benigna ou maligna da lesão na grande maioria das vezes.

Um nódulo de tireoide pode abrigar um câncer em cerca de 5 a 10% dos casos. A incidência do câncer de tireoide vem aumentando progressivamente nas últimas décadas, embora ainda seja proporcionalmente raro. É o quarto tumor mais frequente nas mulheres, ocupando a décima sétima posição entre os homens.

As causas desse aumento ainda não foram completamente elucidadas, e a maior disponibilidade dos meios diagnósticos parece ser apenas uma das explicações.

A obesidade e o diabetes são possíveis fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de tireoide.

Acredita-se que fatores ambientais atuem interagindo com o perfil de susceptibilidade genética de cada indivíduo, promovendo o aparecimento de problemas na tireoide. Alguns desses fatores seriam a exposição à radiação ionizante, infecções virais, pesticidas, bisfenol A, isoflavonas, excesso ou deficiência de iodo, e o tabagismo, entre tantos outros.

Felizmente os tumores de tireoide não costumam ser agressivos e respondem bem ao tratamento adequado, sem afetar a sobrevida da maioria dos pacientes. Sabemos que cerca de 70% dos chamados “microcarcinomas” (tumores menores que 1 cm de diâmetro) ficam estáveis ou até desaparecem espontaneamente ao longo do tempo, mesmo sem nenhuma intervenção, e a maneira como o organismo reage à presença do tumor parece ter papel importante na definição de sua evolução. A maior dificuldade está em determinar quais são os casos que vão progredir para doença, merecendo uma conduta mais agressiva, e quais os casos mais indolentes que devem ser poupados de procedimentos desnecessários, evitando que o “tratamento” seja mais nocivo do que a própria doença.

Quando um nódulo tireoideano é detectado, o especialista deve ser procurado para uma avaliação clínica completa, definindo a melhor conduta em cada caso.

Escrito por

Especialista em Endocrinologia e Metabologia e mestre pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e atua na área há mais de 20 anos. É membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM),  e da Sociedade Brasileira para o Estudo da Obesidade (ABESO). Faz parte da diretoria da SBEM-PR.