Sempre existe preocupação em dosar os níveis sanguíneos do colesterol, pois sabemos que níveis altos estão associados a um maior risco de doenças cardiovasculares. Mas você sabe quais são as funções do colesterol em nosso organismo? E o que significam aquelas siglas que acompanham a dosagem do colesterol? Conheça um pouco mais sobre como funciona esse complexo sistema em nosso organismo, e veja dicas de como diagnosticar e controlar seus níveis para uma saúde melhor.

Conheça as principais funções das gorduras no nosso organismo:

1) Fosfolípides: fazem parte da estrutura das membranas celulares.

2) Colesterol: é o precursor de vários hormônios, dos ácidos biliares (que ajudam na digestão das gorduras) e da vitamina D, e auxilia em importantes funções celulares.

3) Triglicerídeos: constituem uma das formas de armazenamento energético mais importantes do organismo, depositados nos tecidos adiposo e muscular. Os triglicerídeos são formados a partir de três ácidos graxos ligados a uma molécula de glicerol.

Os ácidos graxos (AGs) podem ser classificados como:

Saturados: São as gorduras de origem animal.
Insaturados: São as gorduras de origem vegetal. Podem ser mono-insaturados (ácido oleico) ou poli-insaturados (ômega-3 e ômega-6).

Entenda o que significam as siglas vistas nos seus resultados de exame:

Além dos resultados da dosagem de colesterol e triglicerídeos, que já foram comentados acima, o perfil lipídico traz a dosagem das seguintes substâncias:

  • VLDL
  • LDL
  • HDL

O VLDL, o HDL e o LDL são lipoproteínas, isto é, substâncias que permitem a solubilização e o transporte dos lípides (colesterol e triglicerídeos) no sangue.

As lipoproteínas são divididas em grupos, de acordo com a substância que transportam:

1) As ricas em triglicerídeos:

  • Quilomicrons, de origem intestinal
  • VLDL, de origem hepática

2) As ricas em colesterol:

  • LDL (low density lipoprotein): é o colesterol ruim, que está associado ao acúmulo de gordura nas paredes das artérias.
  • HDL (high density lipoprotein): é o colesterol bom, pois ajuda a retirar o excesso de colesterol ruim das artérias, para que seja eliminado pelo fígado.
  • IDL (intermediary density lipoprotein)
  • Lipoproteína (a): associada à formação e progressão da placa aterosclerótica

Como o colesterol é aproveitado pelo organismo?

Os triglicerídeos representam a maior parte das gorduras ingeridas. Após a ingestão, o colesterol é absorvido pelas células intestinais, caindo no sistema linfático, alcançando então a circulação sanguínea. Os ácidos graxos são capturados principalmente por células musculares e também pelas células gordurosas, importantes reservatórios de triglicerídeos. Outra parte é capturada pelo fígado.

Na circulação, os triglicerídeos são quebrados em ácidos graxos que serão redistribuídos para os tecidos onde podem ser armazenados (tecido adiposo), ou prontamente utilizados (músculos esqueléticos).

O LDL é o principal responsável pelos níveis de colesterol no sangue.

O HDL é conhecido como colesterol bom por transportar o colesterol ruim dos tecidos periféricos para o fígado, para que seja eliminado. Além disso tem outras ações que contribuem para a proteção dos vasos sanguíneos contra a formação de placas de aterosclerose.

Por que os níveis de colesterol aumentam?

Cerca de 70% do colesterol é fabricado pelo nosso próprio organismo, enquanto os outros 30% provêm da dieta.

Aumento dos triglicerídeos: resulta do acúmulo de seus transportadores (quilomícrons e/ou VLDL) devido à diminuição da quebra dos triglicerídeos ou ao aumento da formação de VLDL.

Aumento do colesterol: resulta do acúmulo de lipoproteínas ricas em colesterol, como a LDL, no sangue.

Nestes casos, a interação entre fatores genéticos e ambientais (hábitos alimentares, níveis de atividade física) irá definir como o problema se manifestará na saúde do indivíduo. Doenças como hipotireoidismo, diabetes e problemas renais também estão associadas com aumento do colesterol.

Quais são as implicações do colesterol alto?

A aterosclerose é a principal consequência do aumento dos níveis de colesterol. É uma doença inflamatória crônica que atinge artérias de médio e grande calibres.

O LDL estimula um processo inflamatório local, com a formação de uma capa fibrosa sobre a placa de aterosclerose. A ruptura desta capa leva à formação de um trombo que oclui a passagem de sangue pelo vaso. Quando esse processo ocorre no coração pode levar ao infarto do miocárdio, e, no cérebro, ao derrame (acidente vascular cerebral).

A associação de outros fatores de risco como hipertensão arterial, tabagismo ou diabetes podem acelerar esse processo.

Como é feito o diagnóstico de dislipidemia?

O diagnóstico é feito através de exames de sangue. Jejum de 12 horas é recomendado para a coleta do perfil lipídico. Além disso, deve-se evitar a ingestão de álcool nos três dias que antecedem o exame, assim como atividade física vigorosa 24 horas antes de sua coleta.

Por que os exames podem ter resultados diferentes mesmo quando repetidos num curto espaço de tempo?

Essa variação pode existir, e pode ser de 5% a 10% para o colesterol total, e superior a 20% para os triglicerídeos. Isso se deve a problemas com o método de dosagem, ou a fatores ambientais como dieta, atividade física e variação sazonal, com níveis mais elevados de CT e HDL durante os meses de frio.

Quais são os níveis adequados de colesterol?

Os níveis adequados são determinados pela análise da associação de diversos fatores como:

  • Sexo
  • Idade
  • Doenças associadas (diabetes, hipertensão arterial, IAM/AVC)
  • Presença de outros fatores de risco para doenças cardiovasculares (tabagismo)

A tabela abaixo mostra os níveis desejáveis de colesterol para a população geral.

Quando o colesterol deve ser dosado, e por que é importante fazer o diagnóstico de dislipidemia?

Recomenda-se dosar o colesterol a cada 5 anos a partir dos 20 anos de idade, pois o aumento do colesterol não costuma causar sintomas.

A dosagem dos níveis de colesterol é importante para a identificação de indivíduos assintomáticos que estão mais predispostos a desenvolver a aterosclerose, e como consequência, as doenças cardiovasculares. Também auxilia na definição do risco em pacientes sintomáticos.

Fique atento se você pertence a algum desses grupos de risco:

  • Tabagismo
  • Hipertensão arterial
  • Diabetes
  • Obesidade
  • Homens com mais de 45 anos e mulheres com mais de 55 anos
  • Familiares com doença coronariana

Como é o tratamento para redução dos níveis de colesterol?

Os níveis de colesterol e triglicerídeos se elevam em função do consumo alimentar aumentado de colesterol, de carboidratos, de ácidos graxos saturados, de ácidos graxos trans e de excessiva quantidade de calorias.

Uma alimentação balanceada e rica em fibras poderá contribuir de maneira eficaz no controle das dislipidemias. É fundamental que as preferências alimentares sejam respeitadas, que a alimentação tenha a composição adequada e o que o paladar seja agradável.

O objetivo do endocrinologista é orientar como deve ser a seleção dos alimentos, a quantidade a ser consumida, o modo de preparo, bem como as possíveis substituições dos alimentos.

As medidas com maior impacto na redução do colesterol são:

  • Redução do peso (5 a 10% do peso corporal)
  • Reduzir a ingestão de bebidas alcoólicas
  • Reduzir a ingestão de açúcares simples

O uso de medicamentos pode ser indicado em casos selecionados, dependendo dos fatores de risco apresentados por cada paciente.

Vale a pena usar Ômega3?

Os ômega-3 são derivados do óleo de peixes e de certas plantas e nozes. Em altas doses (4 a 10g ao dia) reduzem os triglicerídeos e aumentam discretamente o HDL, podendo, entretanto, aumentar o LDL-C. Recentes metanálises não confirmam o benefício dessa terapia na redução de eventos coronarianos, cerebrovasculares, arritmias ou mortalidade global. Assim, sua indicação na terapia de prevenção cardiovascular não está recomendada.

Fonte: Arq. Bras. Cardiol. vol.101 no.4 supl.1 São Paulo Oct. 2013

Escrito por

Especialista em Endocrinologia e Metabologia e mestre pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e atua na área há mais de 20 anos. É membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM),  e da Sociedade Brasileira para o Estudo da Obesidade (ABESO). Faz parte da diretoria da SBEM-PR.